quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Brasileira


Este poema foi escrito quando eu tinha 9 (nove) anos de idade. A idéia surgiu após assistir a um jornal de TV. Apesar de não entender tão precisamente a linguagem utilizada, pois voltava-se aos adultos, eu pude captar o cotidiano do sofrimento humano em relação à violência e à pobreza. Uma vontade louca de escrever e imortalizar o que senti no momento inebriou-me e, deste desejo, surgiu o poema "Brasileira". No ano seguinte, participei com este texto no concurso da Bienal do Rio de Janeiro, tendo-o publicado através da Litteris Editora em um livro de antologia literária denominado "Grandes Escritores do Rio de Janeiro".


Trigo nas mãos, ouro nos braços
vida antiga ou atual,
sofrendo e sorrindo sempre
é que se conta um conto encantado.

Esta história começará
como lágrimas cristalinas
escorrendo como mel
no viver de uma menina.

Ela morava na França, Brasil, Japão...
Mas nos ensina uma forma
encantada como o Natal.

Ela sonhava ser,
como toda menina,
rica e maravilhosa
como toda estrela feminina.

Essa menina era pobre,
mas não iria esquecer
que tinha chance de vida
de uma meiguice reviver.

Ela morava numa favela
correndo riscos de vida
num país lindo em migalhas
saltando como gatilho em trilhas.

Um dia, barulho apertou.
Sua mãe fugiu com ela, o marido e os outros filhos.
Diziam ser uma arma de fogo
a matar qualquer indivíduo.

Mas o sonho da menina
era mesmo uma maravilha!
Num país de crise e desgraças
colaborarem em uma vida!

Um beijo doce e único de sua mãe,
na testa da menina (e dos outros filhos)
um abraço apertado em seu marido
a mãe dava escondido.

A menina era uma criança.
Crianças são simples, alegres... imaginárias
Mas umas são boas,
sonham em melhoras
sem pobrezas, mas vitórias.

A menina logo podia voltar a correr,
voltar a brincar, arranjar comida para comer.

Os meninos juntavam meias velhas
para jogar futebol.
Enquanto as meninas varriam
e brincavam de boneca no quintal.

Graças a Deus, ela ia pra escola.
Mas muitos amigos não iam e analfabetos ficavam.
Também não sabiam calcular, cientificar e nem planejavam.

Anos se passaram,
e a menina foi crescendo.
Quando adulta se tornou,
paleontologia foi fazendo.

Não quis seguir os conselhos
de suas amigas analfabetas
que na TV apareciam
dançando "tchan" pela platéia.

A menina pesquisava, pesquisava
e uma vez descobriu
que dinossauros eram também
estrelas em nosso Brasil.

Euclidelândia em Cantagalo
era mar, há milhões de anos atrás.

Ela foi descobrindo,
desenterrando fósseis de dinossauros.
Depois, sábia ficou,
sobre esses gigantes antepassados.

Depois ela casou,
teve filhos.
Aí teve que mudar de cidade
(porque seu marido foi transferido).

Seus filhos foram crescendo
e ela envelhecendo.

Agora, seus filhos
adultos ficaram
sem esmolas de mendigo.
E, ela e o marido, viraram sustentados.


(Autoria própria)